Ciência, literatura e educação: a utopia morena no pensamento social de Darcy Ribeiro (2023)

ArtigoReverendo Bras. elevação. 282023https://doi.org/10.1590/S1413-24782023280038 Café

CIÊNCIA, LITERATURA E EDUCAÇÃO: A UTOPIA MORENA NO PENSAMENTO SOCIAL DE DARCY RIBEIRO

CIÊNCIA, LITERATURA E EDUCAÇÃO: A UTOPIA MARROM NO PENSAMENTO SOCIAL DE DARCY RIBEIRO

Lincoln de Araujo Santos

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, RJ, Brasil.

    Lincoln De Araújo Santos é doutor em Políticas Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação nas Periferias Urbanas (PPGECC) da mesma instituição e da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF). E-mail:liarsan@gmail.com

    http://orcid.org/0000-0001-8536-7087
Sobre do autor

    Este artigo apresenta um panorama das realizações de Darcy Ribeiro e discute áreas de sua atuação como antropólogo, cientista social, escritor, ensaísta e operador do Estado, e como um dos fundadores dos Núcleos Integrados de Educação Pública. Analisarpor muilezeleo povo brasileiroDeveria refletir sobre seu projeto político-civilizatório, suas visões sobre o Brasil e a multiplicidade de suas matrizes étnicas - esse "povo germe". A trama do convívio a partir do domínio dos fazendeiros e suas relações cotidianas com negros, caboclos e caipiras mostra como são retratadas as identidades que representam uma compreensão do Brasil. As teorias sobre a educação dos povos latino-americanos e dos brasileiros em particular encontram eco no projeto de centros integrados de educação pública, onde ninguém é protagonista da educação formal e cultural. O centenário em 2022 convida ao debate sobre um projeto nacional de desenvolvimento social e as bases de uma escola primária democrática, universal e de qualidade.

    PALAVRA-CHAVE
    pensamento social brasileiro; gestão e planejamento da educação; literatura e educação; CIEP; Darcy Ribeiro

    Este artigo traça um panorama da obra de Darcy Ribeiro, discutindo as áreas de sua produção como antropólogo, cientista social, escritor e ensaísta e sua experiência como ator estatal, bem como sua experiência como um dos idealizadores de centros integrados de educação pública. (Centros Integrados de Educação Pública). Ao analisarpor muilezelEmo povo brasileiroO objetivo deste artigo é estimular uma reflexão sobre seu projeto político-civilizatório, sua percepção sobre o Brasil e a pluralidade de suas matrizes étnicas, que Darcy Ribeiro chama de povos germes. A trama das áreas rurais dos latifúndios e suas relações cotidianas com os negros,cabochõesEmsoluçomostra como as identidades representadas percebem uma compreensão do Brasil. As teorias sobre a formação dos povos latino-americanos, e dos brasileiros em particular, estão refletidas no projeto de centros educativos públicos integrados onde ninguém é protagonista e o acesso à educação formal e cultural é garantido. Seu centenário em 2022 exige o debate sobre um projeto nacional de desenvolvimento social e a fundação de uma escola pública de qualidade, universal e democrática.

    PALAVRA-CHAVE
    pensamento social brasileiro; gestão e planejamento da educação; literatura e educação; CIEP; Darcy Ribeiro

    Este artigo traça um panorama das realizações de Darcy Ribeiro e discute as áreas de sua atuação como antropólogo-cientista social, escritor-ensaísta e operador do Estado, e como um dos fundadores dos Centros Integrados de Educação Pública (Centros Integrados de Educação Pública). . ao analisarpor muilezelJo povo brasileiro, a intenção de refletir sobre seu projeto político-civilizatório, suas visões sobre o Brasil e a multiplicidade de suas matrizes étnicas - esse "povo germe". A trama do convívio rural nos domínios dos latifundiários e suas relações cotidianas com negros, caboclos e camponeses revela as formas culturais e políticas que representaram as identidades que constituem uma compreensão do Brasil. As teorias sobre a formação dos povos latino-americanos e dos brasileiros em particular estão refletidas no projeto, desde os centros integrados de educação pública, onde ninguém é protagonista, até a educação formal e cultural. O centenário de seu nascimento em 2022 exige que se discuta um projeto nacional de desenvolvimento social e as bases para uma escola primária universal, democrática e de qualidade.

    PALAVRA-CHAVE
    pensamento social brasileiro; gestão e planejamento da educação; literatura e educação; CIEP; Darcy Ribeiro

    O ano de 2022 marca os 100 anos do nascimento de Darcy Ribeiro, um dos mais importantes intelectuais e políticos brasileiros do século XX. Observamos vários em sua jornada de vidaDarcy, que se multiplicou e se intensificou no ofício e nos lugares onde seu espírito inquietante e polêmico se manifestou como projeto nacional de desenvolvimento do país, incluindo os povos emergentes do surgimento do Brasil e os brasileiros.

    Personagem dessa república hesitante, frágil em sua existência democrática, Darcy atravessou três esferas nas quais desenvolveu suas habilidades criativas e em cada uma delas expressou uma ideia do país e suas pluralidades. Em seus universos únicos e dialeticamente integrados, na antropologia indígena e na convivência com essas sociedades, nos textos literários de romances e ensaios em que retratou as pessoas que comporiam essa terra diversa, e na educação ao criar uma utopia multirracial e encontro projetadoBrasilTempo integral no ensino fundamental.

    Nascido na década de 1920, Ribeiro pertence a uma geração de intelectuais fortemente inspirados pelos acontecimentos e seus desdobramentos políticos, culturais e sociais da época. A criação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1922, onde Darcy criou sua milícia partidária, a semana de arte moderna e neste caso a convergência de uma renovação cultural nas artes plásticas, literatura e outras linguagens foram sem dúvida os gatilhos para sua Fundação. A fundação da Associação Brasileira de Educação (ABE), entidade que reunia um grupo de intelectuais que viria a convencer o pensamento educacional brasileiro na perspectiva do novo liberalismo escolar, certamente influenciou as ideias pedagógicas de Darcy Ribeiro por meio de Anísio Teixeira.1 1Nasceram na década de 1920: Florestan Fernandes e Celso Furtado, 1920; Paulo Freire, 1921, Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, 1922; e Raimundo Faoro, entre outros, em 1925. As reformas educacionais nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco também simbolizaram um forte movimento político-intelectual baseado na Escola Nova e na filosofia Deweyiana.

    Na trajetória desse mineiro de Montes Claros e nessas três esferas de atuação de sua existência criadora, reconhece-se uma ligação, percebida pela vivência e visão de mundo e pelo seu empenho como homem de seu tempo, a idealização de um país e a análise precisa de sua gênese neste povo. O autor, político e cientista social sempre teve um lado: “Não sou apenas antropólogo, sou também crente e partidário. Envolvo-me na política e na ciência por razões éticas e com um passado patriótico.” (Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995]., S. 16).

    Um dos objetivos deste artigo é discutir o pensamento social de Darcy Ribeiro, observando os cruzamentos entre suas ideias e suas experiências nas pesquisas que realizou durante sua convivência com os índios, apresentando sua produção científica em livros e Considerando Ensaios, leia seus texto literário e como essas ideias penetraram no imaginário pedagógico, e propuseram um projeto de ensino fundamental em tempo integral.

    Nessa perspectiva, duas obras selecionadas servirão de referência para esse debate, na articulação das matrizes de seu pensamento social e no modo como essa ideologia do Brasil passou entre os escritos etnográficos sobre a formação social do povo brasileiro e sua literatura texto que Ficção e realidade se manifestam em um romance.O povo brasileiro - origem e importância do Brasil(Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995]) epor muilezel(Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981]) são as obras que identificam a construção de uma nação nascida de diferentes tribos, fragmentos de pluralidades e matrizes contraditórias, mas que enriqueceram nossa compreensão do Brasil. Por meio dessa prática de relacionar obras de um mesmo autor a linguagens e estéticas diferentes, o PPP dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) possibilita pintar o retrato de um povo em seu próprio contextoSão.2 2A seguinte referência é utilizada nos estudos propostos para este artigo: RIBEIRO, D. O povo brasileiro. São Paulo: Schwarz Ltda., 2009; e RIBEIRO, DO Mulo. São Paulo: mundial, 2014a.

    Emo povo brasileiro(Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995]) A escrita de Darcy aproximou-se da obra de OliveiraViana (2000)17 VIANA, F.J.O. Populações do Sul do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. - População do Sul do Brasil- e por EuclidesCunha (2000)4 CUNHA, E. Sertões. Rio de Janeiro: Rekord, 2000.Interior— onde o meio geográfico afeta a sociedade – costumes, costumes, língua, mitologias e religiosidade. Matutos, vaqueiros, sertanejos e caboclos são os estereótipos encontrados nos estudos dos três intelectuais brasileiros, descritos com caracterizações minuciosas e únicas:

    Sertanejo é acima de tudo um homem forte [...] Ao fazer uma panorâmica e estacionar nas escadas, o espectador encontra perspectivas que seguem em um crescendo de suprema grandeza: primeiro as planícies de chapadas e morros, dando lugar a vastas planícies abaixo; pelas cadeias montanhosas distantes agrupadas em todos os quadrantes; E quando chegamos ao topo, avistamos as montanhas – o espaço indefinido, a estranha sensação de altura imensa potencializada pelo vislumbre da pequena vila abaixo, quase imperceptível na confusão caótica dos telhados. (Aqui, 20004 CUNHA, E. Sertões. Rio de Janeiro: Rekord, 2000., S. 270; 292)

    Matuto, cujos principais centros educacionais são as regiões serranas do estado do Rio, o grande maciço continental de Minas e os planaltos agrícolas de São Paulo, representa outra diferenciação social pelas reações mesológicas que exercehabitatárea arborizada no centro-sul, devido à economia agrícola predominante. O caipira do sul adquirirá as características distintivas do sertanejo quando exposto às pressões relativamente longas do ambiente sertanejo. (Viana, 200017 VIANA, F.J.O. Populações do Sul do Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000., S. 926-927)

    Em algumas terras úmidas espalhadas pelo Mediterrâneo a partir de Sertanejo - os pântanos, montanhas e planícies aluviais - a agricultura comercial foi desenvolvida ao lado da pecuária. É o caso do Agreste nordestino, mais fresco e próximo aos centros urbanos de consumo, onde a pastagem se fundiu com uma cultura alimentar sem nenhuma associação. […] Os sertões tornaram-se assim um grande reservatório de mão-de-obra barata, subsistindo parcialmente das contribuições que os emigrados sertanejos enviavam para suas famílias. (Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], p. 313)

    Dois elementos são encontrados na obra de Darcy e nas influências que observamos na consolidação de seus escritos. EMo povo brasileiro(Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995]) existem personagens que se aproximam dos estilos de Euclides da Cunha3 3Euclides da Cunha und sein Werk Os Sertões werden von Darcy Ribeiro (2009 [1995], S. 324) zitiert. Florestan Fernandes, Sergio Buarque de Holanda und Gilberto Freyre werden ebenfalls erwähnt (Ribeiro, 2009 [1995], S. 28; 32-33; 55).e Oliveira Viana na tradição de descrever a geografia que determinou a formação cultural desses povos que misturam e reconstroem planícies, planaltos, zonas climáticas, rios, pecuária e economia.

    Aproximar Euclides da Cunha e Oliveira Viana do texto de Darcy Ribeiro não significa queo povo brasileiro(Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995]) como uma simples repetição formal das obras citadas; ao contrário, sinaliza as peculiaridades e a originalidade da criação de Darcy, utilizando-se do poder crítico, por exemplo, ao observar a lógica perversa do domínio dos latifundiários sobre os camponeses, que, como ministros da Casa Civil, representam o governo João Goulart Indústria com a seca no Nordeste.

    O segundo elemento consiste em perceber o romance ficcional-realista implícito na trama nele propostapor muilezel(Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981]). O antropólogo e sociólogo Darcy, que retratou a etnografia regional de um certo tipo brasileiro, o sertanejo, vê a transformação desse perfil sertanejo em personagem, seus dramas, seus amores, sua visão de mundo e sua sociabilidade.

    Após a anistia em 1979, Darcy voltou às atividades acadêmicas e tornou-se professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em sua trajetória intelectual alternou ao longo de sua vida a produção de escritos no campo das ciências sociais com reflexões sobre os processos de evolução da civilização na América Latina, na incessante busca de significados sobre o surgimento do Brasil e dos brasileiros. Na ficção, Ribeiro utilizou temas, cenários e pessoas com quem conviveu durante seus dias de pesquisa no interior. O tema original, os aspectos africanos e suas culturas, enfim ilhas humanas formatadas em personagens, seus dramas em trechos do ambiente.

    especialmente no trabalhopor muilezel(Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981]), com trama regional pontuada entre Minas Gerais e Goiás, onde se passam as tramas romanizadas, o foco da história está no personagem, que muda de nome de acordo com a fase da vida que está narrando. Terezo-Terentius-Philogonius pertence a eleeuque molda a personalidade de um sujeito que se molda na busca incessante do autoconhecimento e da justificação. Filogônio contou sua história como uma confissão no final da vida, e assim a figura do padre, a cumplicidade em ouvir seus atos desde a infância até os preparativos para a morte, se aproxima cada vez mais.

    Darcy Ribeiro retratou o mundo rural fora dos últimos costumes republicanos estabelecidos no final do século XIX. O cenário desse realismo romantizado se passa entre as décadas de 1920 e 1960. Na distância entre o campo e a cidade reconhecem-se os esforços de interioridade para se adaptar à (nova) ordem burguesa. Sem a presença visível e objetiva do Estado, os costumes, o vocabulário, a moral, os mitos e o controle social são mediados pela igreja, instituição que sobreviveu e emergiu da cultura monárquica.

    O catolicismo rural, a sacralização do bom senso, transpôs a confissão dos pecados de Filógono no sentido de que ele buscava a purificação da alma e a garantia da salvação de sua alma e da ordem civil, a vontade. A religiosidade justifica processos civis. Para Filogônio, a confissão seria o caminho para o perdão divino; o testamento, a garantia de que sua riqueza duraria para sempre:

    Peço-vos, vosso sacerdote, que tenhais paciência e perseverança na leitura e no perdão deste relato dos meus pecados que, se bem me lembro, irei revelar. Peço também que continue escrevendo os pecados e legados que cometerei, pois a consciência de minhas ofensas e a bondade dos outros aquece meu coração, alguns dos quais devem ser perdoados na lei de Deus; os outros recompensados ​​por mim. Para legalizar essas doações, tenho documentos notariais e testamentos que me foram entregues. (Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981], p. 14)

    Emo povo brasileiro,Ribeiro (200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995]) descreveu a mentalidade religiosa dos sertanejas ao identificar o calendário de costumes, cultos aos santos padroeiros e lugares sagrados como capelas e cemitérios. A identidade religiosa, seus gestos, imagens e representações justificam e ordenam a realidade e buscam dar sentido às relações interpessoais. Os círculos da ordem sacral e civil se fundem harmoniosamente.

    O romance converge e centraliza seu desenvolvimento na figura de Philogonius (Terezo-Terêncio), em queRibeiro (2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981]) fez o possível para captar a personalidade forte do personagem principal em suas conquistas, medos, fugas e assassinatos. O personagem principal é o narrador que controla a história (tanto que seu interlocutor, o padre, não dialoga nem tem nome, mas apenas o escuta). Ao apoiar suas ações e admitir alguns pecados, ele revela seus instintos predatórios e de sobrevivência. O seu conflito interior, o drama psicológico entre os limites da vida e da morte, dá-lhes sentido ao mesmo tempo que rejeita a morte que não quer mas que espera. Morte e imortalidade presentes em uma dialética da existência: “Estou vivo, vivo e mortal. Mortos serão, mortos e imortais. Eu tenho o anel do tempo dentro de mim. Eu sou o começo e o fim de mim mesmo. Em última análise, eu sou eu." Sempre recomece" (Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981], p. 47).

    A confusão de Filogônio tenta revelar os rumos de sua vida, a honra que se expressa em sua luta pessoal pela sobrevivência, na dura vida sertaneja e na conquista do que tinha valor econômico e político em Minas Gerais e na geografia goiana: terra e gado. O orgulho de suas falas, que confessou ao padre, mostra a origem da elite rural, cujas oligarquias republicanas ainda estão presentes no cenário político-institucional.4 4Florestan Fernandes (2005, p. 241), em A Revolução Burguesa no Brasil, analisa a natureza da modernização conservadora em curso no país e caracteriza o capitalismo em desenvolvimento no Brasil com normas próprias, principalmente na singularidade brasileira. As elites e a transição da economia rural-agrícola para a industrialização urbana, identificando a permanência ideológica dos princípios da escravidão, as elites unindo seus projetos políticos: “A própria burguesia como um todo (incluindo as oligarquias) se adaptou à situação”. uma série de interesses divergentes e ajustes ambíguos, a mudança incremental e a composição sendo favorecidas em detrimento da modernização violenta, intransigente e avassaladora... O mandonismo oligárquico foi reproduzido fora da oligarquia. A burguesia, que o rejeitava por ofender seus interesses, não suportava usá-lo na vida em suas relações sociais.

    (Video) Darcy Ribeiro e Rubem Alvez (Dabate sobre Utopia)

    A cultura da dominação, estabelecida durante o período da escravidão colonial, representa a permanência de relações sociais baseadas na hierarquia e em uma ordem estabelecida.Ribeiro (200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], p. 309) é mencionado, io povo brasileiroque: “O fazendeiro e seus vaqueiros se comportaram como um mestre e seus servos. Como proprietário e senhor, o proprietário tinha autoridade inquestionável sobre a propriedade e às vezes fingia falar sobre a vida e muitas vezes sobre as mulheres que desejava.”

    Em suas confissões, Philogonius não escondia seu desprezo, especialmente pelos negros; Aos olhos do latifundiário, era um fator objetificado e pejorativo que enfatizava a transição das relações de produção do estado escravista para uma prática de trabalho livre em que persistia a esfera cultural, política e social do trabalho. Refere-se aos agregados, aos trabalhadores de suas fazendas e territórios, de uma forma que sugere crueldade, pertencimento e propriedade:

    Meus negros [...] fui e sou pai deles; mas preto não conta [...]. Para os meus negros, eu ganhava a vida dando ordens em tom de sargento [...]. Grita com uma voz trovejante. Não por acaso, mas a serviço da produção [...]. Aos poucos fui aprendendo a trabalhar com isso [...]. Os negros não têm ambição e não gostam de compromissos [...]. Os negros não têm ambição e não gostam de compromissos [...]. O principal objetivo da minha criação negra era prover para muitos almocreves, pastores e cozinheiros. (Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981], p. 97, 116, 157)5 5Nesta reflexão Darcy Ribeiro se refere à obra Escravidão Colonial de Jacob Gorender (1988).

    A mentalidade de escravidão, propriedade da terra e trabalho manteve a lógica rural representada pelo personagem Filogônio. Mas como Darcy melhor expressou a relação de lealdade e reciprocidade nas conspirações manifestadas entre o dono da terra e do gado, responsável pelos assassinos e mulas que percorriam o interior de Minas e Goiás, vendendo produtos, fazendo negócios, e a herança total dos negros Matrizes, indígenas e europeias, agregados que mesclam padrões culturais, sexuais, de convivência e sobrevivência?

    Ribeiro (200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], p. 316) em seu exercício ficcional não abdicou de seu papel de cientista social e antropólogo e desenhou uma etnografia de um dosIlhas chamadas Brasil, Filogônio e seus afilhados, mulheres usadas para o prazer sexual, vaqueiros e motoristas são apresentados no texto: “A relação do sertanejo com seu patrono é tratada com o maior respeito e respeito, todo vaqueiro e camponês se esforça para mostrar sua prestatividade como servos e seus criados .” lealdade pessoal e política.”

    Philogonium heinpor muilezel(Tropeiro), educado sem referências paternas mas sobrevivendo nos lugares que o moldaram: ambiente militar, troperia, cercas e gado, trocas e relações comerciais. Seu dilema está na solidão, no desejo de deixar seu legado para a Igreja. Em uma de suas confissões ao padre, ele falou sobre o traumático tratamento que sofreu no serviço militar por uma doença sexualmente transmissível: “Eles acham que me castraram lá, padre.” Essas foram as injeções que o médico me deu.Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981], p. 123).6 6A história do personagem Filogônio revela o empecilho de ter filhos e deixar herdeiros naturais. Ela guarda alguma semelhança com a própria experiência de Darcy Ribeiro em sua vida pessoal ao explicar os motivos de não ter filhos: "Dr. Schoer me ajudou, que, após me examinar, foi ao consultório procurar o instrumento da minha salvação. Ele voltou armado com uma seringa veterinária e inseriu a agulha duas vezes para injetar novocaína. (Ribeiro, 1997, p. 134). Darcy refletiu seu dilema pessoal em seu romance e no personagem de Philogonius?

    O cientista social encontra o romancista e ensaísta que descreve o drama humano em uma rede de relacionamentos. Organizar ideias e estudos sobre cultura e sua expressão, como B. a linguagem, elementos que garantem sua sobrevivência são, na verdade, elementos presentes no romance. O ensaísta aborda a questão ecológica quando afirma: io povo brasileiro(Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].(1995)) que um dos conflitos relacionados às formações étnicas é a disputa pelo território, pelas florestas e seus recursos para fins de exploração da terra. A história dos incêndios no romancepor muilezel(Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981], p. 205) revela visceralmente essa ideia do autor mineiro:

    O mundo verde, em forma de tronco, poderoso, aberto em palmeiras, espalhou-se sobre mim sob meu fogo e escureceu ... De repente, vimos o céu denso cheio de fumaça, tremendo de excitação como se ganhasse vida. Era o turbilhão de abelhas, mutucas, grilos e bichos girando feito loucos... Aí eu vi, lembro até hoje, o chão tremer e mexer do outro lado e das cobras rastejando desesperadas entre tatus, tamanduás e esquilos confusos ferviam. Jaguares em todas as capas pularam na água, rugindo. Os animais assustados saíram da água bem na nossa frente, sem medo nenhum, de tão assustados que o fogo explodiu em chamas por toda parte.

    Como operadora do Estado, a preocupação com o meio ambiente e sua proteção sempre estiveram presentes e uma extensão do seu trabalho. A convivência com os índios e o sertão e as influências que recebeu do marechal Cândido Rondon despertaram em Darcy a consciência político-ecológica.

    Como Vice-Governador do Estado do Rio de Janeiro, deixou um legado de proteção ao meio ambiente ao assinar cerca de 40 títulos de conservação, incluindo tratados de preservação ambiental do trecho carioca de praia, Praia de Grumari, Dunas de Cabo Frio, Praça Burle Marx, Pedra de Guaratiba. Na Eco-1992, evento no Rio de Janeiro, criou o Parque Floresta da Pedra Branca, protegendo uma área de 12 mil hectares.

    em seu livroAmérica Latina, grande pátria,Ribeiro (2014b14 RIBEIRO, D. América Latina: a grande pátria. Brasil: Editora UnB, 2014b., p. 117) escreveu sobre sua indignação com a situação planetária e ecológica:

    Sabemos que o homem é uma espécie de cogumelo selvagem que tomou conta do mundo. Milhões de plantas foram exterminadas para serem usadas apenas como pastagens para o gado e alimento para os seres humanos. Quase todas as milhares de espécies animais foram exterminadas e substituídas por galinhas e cabras. Sim, essa é a nossa tradição. A novidade é que agora, diante da visão da catástrofe iminente, começamos a suspirar por céus azuis e céus desbotados. Queremos água cristalina, florestas primitivas e animais selvagens. O diabo é que gememos por esses bens supremos apenas no nível da poesia ou da oração. No mundo real, porém, onde nosso destino está sendo decidido, o trabalho é estragar a vida até a morte.

    Também em uma das principais obras,O processo de civilização,Ribeiro (198710 RIBEIRO, D. O Processo Civilizador. Petrópolis: Vozes, 1987.[1968], pp. 201-202) registrou suas preocupações com a humanidade:

    As ameaças que já assolam a humanidade hoje levam a temer que, a menos que sejam desenvolvidas formas racionais de controle sobre a vida social, econômica e política que nos permitam fazê-lo, vamos nos deparar com esses limites e correr o risco de ultrapassar o limite fatal que permite às pessoas cientificamente controlar todos os fatores podem afetar. Seu equilíbrio emocional e sua sobrevivência na terra.

    A trajetória da protagonista apresenta os elementos que formaram o cenário de um país em transição, o meio rural e suas características próprias, a forma de perceber o mundo, num convívio nascido de uma brasilidade tranquila onde negros, índios, caboclos, matutos e Os sertanejos misturam a luta pela sobrevivência. À ordem política correspondeu a ferocidade dos conflitos fundiários e a concentração da propriedade nas mãos de poucos, em que se manifestou a persistência da mentalidade agrária excludente e do iberianismo como cultura das elites fundiárias dominantes.7 7Luiz Werneck Vianna (2004, p. 175), em A Revolução Passiva: Iberismo e Americanismo no Brasil, propõe um estudo de uma mentalidade política desenvolvida na mente de Oliveira Vianna, um movimento ideológico envolvendo as elites brasileiras e seu Modelo penetraria na modernização . no Iberismo: "A forma ibérica de governo teria sido justificada desde a independência pela necessidade generalizada de manter a autoridade, a disciplina e a unidade entre núcleos provinciais material e moralmente completamente isolados uns dos outros [...]. O moderno é rejeitado com a condição de ser submetido à tradição. Moderno, revisitado e assim recriado, inspirado na história do clã latifundiário, guardião dos valores sublimes do brasileiro.”.

    Ribeiro (2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1995], p. 280) acrescentou o conflito político do país, já presente nas décadas de 1950 e 1960, pois uma das confissões de Filogônio relata duas visitas alaranjas:

    No rastro dos pássaros, alguns homens viajaram posteriormente em jipes de outras partes do país. O primeiro a chegar estava aparentemente em viagem de negócios. Ele me contou com entusiasmo sobre invasores amotinados. Falou mal do governo Jango, traiçoeiro com os latifundiários... A ideia de uma guerra revolucionária entre os trabalhadores e os patrões me preocupava um pouco. Quando estourou, todos nós, camponeses, corremos o risco de ser atacados por operários e camponeses. Seríamos expulsos, roubados e talvez até mortos. Seguro.

    É claro que o desenvolvimento da ideologia reacionária atingiu o país, alimentando os temores comunistas e a revolução bolchevique de 1917.Liberdadedo Sertanejo. Literatura, reflexão e história do país se complementam no texto de Darcy Ribeiro. EMo povo brasileiro(Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], p. 327) traçou o perfil do sertanejo:

    Sertanejo é sempre uma agregação temporária que pode ser desocupada a qualquer momento sem explicação ou direitos. Sua casa é a fazenda em que você acabou de ser criado; Sua colheita é uma rocha precária que só pode garantir o que ele precisa para não morrer de fome.

    A Guerra Fria na Cabocla marcou o limiar do golpe já em 1964. As reformas fundamentais, em particular o espectro das reformas agrárias, e a organização dos sindicatos camponeses liderados por Francisco Julião alimentaram os temores no interior. a política camponesa do protagonista. Filogônio defendia o estereótipo do ódio de classe e os princípios de um subproduto antiliberal dos ideais latifundiários: a concentração da terra como princípio da liberdade.8 8Antes de pesquisar o Capítulo VII, “A ação coletiva da elite orgânica: A campanha política da burguesia – A contenção dos camponeses”, Dreifuss (1981, pp. 281–299) pesquisou fontes documentais primárias indicativas das estratégias dos governantes militares, que definiram o golpe civil-militar no Brasil. O texto discutiu a longa história de agitação rural e como a repressão visava esmagar as forças articuladas na luta pela reforma agrária, suas lideranças e instituições.

    A segunda visita é assim descrita pelo personagem principalpor muilezel(Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981], p. 280-281):

    Meses depois, outro grupo paulista aparece na minha frente, agora em uma caminhonete. Agradeci porque percebi imediatamente pelo tom e pelas maneiras do reitor que ele era um oficial do exército ou um político de alto escalão [...]. Mas o homem ainda estava excitado, bravo contra o comunismo ateu, contra o governo corrupto, desajeitado e fraco dominado por comunistas que implementavam reformas agrárias ... Seu medo não me convenceu tanto quanto as quinze metralhadoras com muitas balas deram no segundo dia. Data! […] Satisfeito com o homem que discretamente reuniu um grupo e esperou ali. Se a guerra começasse, ele lutaria duro e feio.

    As tensões rurais reveladas nas histórias de Filogônio prenunciavam o conflito político em que o cenário da concentração fundiária se apresentava como o teatro do conflito.Ribeiro (200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], pp. 327-328) contemplava uma rápida expansão dos movimentos associativos rurais, especialmente em torno dos engenhos de açúcar, onde estavam os assalariados agrícolas, onde as lideranças da cidade - padres católicos e militantes comunistas - estavam presentes no processo: “Estava mas no precário.” no contexto de um boom político temporário. Ao ser derrubado pelo golpe militar, o sertão voltou a cair no despotismo fundiário”.

    Seja na literatura ou no texto científico das ciências sociais, o pensamento social de Darcy Ribeiro tem um elo, uma conexão entre as ideias que projetaram a ação política, sabendo que se trata do desenvolvimento do processo civilizatório latino-americano e da libertação do diferentes atos dos povos que compõem o continente. Sua insistência ao longo da vida no desenvolvimento de uma teoria geral da educação da maioria do povo - os índios - de diferentes línguas e culturas contrastou com uma dialética entre a história social e as possibilidades políticas de soberania territorial, social e econômica. dos centros desenvolvidos do capitalismo.

    Na literatura,por muilezel(Ribeiro, 2014a13 RIBEIRO, D. Muldyret. São Paulo: Global Editora, 2014a [1981].[1981]) focalizou a sociabilidade dos povos que se espalharam pelas áreas geográficas entre Minas Gerais e Goiás em um recorte do tipo pessoa da cultura rural, do pensamento dominante dos latifúndios conquistados à força pelos aventureiros e das classes sociais que são explorados nesse cenário: os negros não são mais reconhecidos como escravos, mas tratados como subalternos; Fazendeiros de caboclos em terras que não possuíam; Os sertanejos se submetiam à lógica do trabalho forçado e mal remunerado. EMpor muilezel(ibid), além dos conflitos pessoal-existenciais de Filogônio, Ribeiro retratou aqueles que sobreviveram à margem da produção fundiária devido à concentração e controle da propriedade nas mãos de poucos.9 9O desfecho do romance ocorre quando Filogônio, olhando-se no espelho e reconhecendo seus traços antigos, descobre que seu pai fora Lopinho: "Então, de repente e espantado, compreendi: mesmo rosto, mesmo olhar triste, mesma boca, a mesma …” chupando, retorcido, o mesmo nariz grande, a mesma testa estreita, a mesma barba rala... O que eu via no espelho não era eu, era ele. Era o saudoso Lopinho. (Ribeiro, 2014a, pp. 312-313) O drama edipiano foi a constatação de que Filogônio havia assassinado Lopinho na juventude.

    Emo povo brasileiro Ribeiro (200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995]) foi a tentativa do autor de caracterizarIlhas chamadas Brasil, as peculiaridades das colônias germinativas que formaram as matrizes para sua formação. O espaço geográfico se articula com o meio ambiente, clima, fundos de rios, córregos e igarapés, fundindo-se regionalmente, na mistura de povos, culturas locais, mitologias comunais nascidas de um catolicismo hegemônico e rituais afro-indígenas.

    A literatura e a antropologia andam de mãos dadas com o ideal de um socialismo nos trópicos que mais postula que a diversidade é a riqueza cultural e política de uma nação que a criou por meio do autoconhecimento de sua identidade.Ribeiro (200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], p. 411) delineou a utopia socialista marrom escuro de justiça social exaltando as virtudes de um povo que se formou como uma civilização e deu um exemplo para outros povos do planeta:

    Já a maior das nações neolatinas em termos de população, o Brasil continuará a crescer em número por causa de sua criatividade artística e cultural [...]. Construímo-nos na luta para prosperar amanhã como uma nova civilização, mestiça e orgulhosa de nós mesmos. Mais feliz porque há mais sofrimento.

    Ribeiro, escritor, ensaísta e estudioso das tribos indígenas do Brasil, vivenciou intensamente todos os papéis que desempenhou e deu sentido à sua existência marcada pela história republicana do país. Teve momentos únicos na política quando foi ministro da Educação e primeiro-reitor da Universidade de Brasília (UnB) durante a legislatura da década de 1960. Em 1963, chefiou o centro comunitário logo após João Goulart ter reconquistado os chefes de estado e de governo em referendo de 31 de março, data do golpe civil-militar no Brasil. Por meio de Anísio Teixeira, Darcy aprendeu sobre educação e percebeu que nenhum projeto de desenvolvimento nacional deve negligenciar a prioridade de investir na região.10 10Em 1964, Darcy Ribeiro exilou-se no Uruguai, onde trabalhou como professor de antropologia na Universidade da República Oriental do Uruguai, em Montevidéu. Em 1969 exilou-se na Venezuela, onde trabalhou na Universidade Central da Venezuela. Em 1971, assessorou o presidente chileno Salvador Allende. Em 1972 assessorou o presidente peruano Velasco Alvarado na elaboração de um plano de reestruturação do sistema universitário peruano. Durante o período de exílio participou de ações do Conselho Mundial de Igrejas e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), todas dirigidas contra o Estado originário [Apêndice, O Mulo. A Vida e Obra de Darcy Ribeiro (Ribeiro, 2014a); Conheça: Darcy Ribeiro (Campos, Cohn e Reis, 2007, pp. 234-237)].

    Em 1982 foi eleito vice-governador do estado do Rio de Janeiro e, ao lado de Leonel Brizola, foi referência para a oposição na transição do fim do regime civil-militar para a retomada do Estado Democrático de Direito. no Brasil, consolidada com a nova constituição de 1988. Exerceu diversos cargos no governo: Ministro da Ciência, Tecnologia e Cultura; Diretor do Teatro Municipal, da Fundação de Arte do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ) e do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ); Coordenadora do Programa de Educação Especial (PEE). Em 1985, iniciou-se a construção dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) com a fundação da Fábrica de Escolas.

    Após retornar do exílio, teve a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas nas áreas de proteção ambiental, cultura, ciência e tecnologia e, em especial, educação. Quase 40 anos após a inauguração do primeiro CIEP, denominado Tancredo Neves, próximo ao Catete, no Rio de Janeiro, em 8 de maio de 1985, essa experiência inovadora de transição para a governança liberal-democrática no país ainda suscita discussões na política e na educação.

    O CIEP surgiu no contexto de uma profunda crise nas escolas públicas do Brasil. O período da ditadura civil-militar forçou o enfraquecimento do sistema público de ensino e abriu amplo acesso à iniciativa privada que encara a educação como um empreendimento comercial. Ao mesmo tempo, a concessão de bolsas de estudos para escolas particulares financiadas pelos governos militares acelerou uma espécie de privatização do ensino primário e limitou os investimentos na expansão dos sistemas públicos de ensino. Consequentemente, a desvalorização da educação, fruto da política econômica de pressões salariais na década de 1980, levou a um estado grave da educação nacional no início dos anos 1980.

    (Video) O Brasil de Darcy Ribeiro | O paraíso perdido | Episódio I

    Em apresentação ao Senado Federal em 4 de maio de 1983 na Comissão de Educação e Cultura, Ribeiro não apenas traçou uma leitura sobre a dramática situação do sistema educacional brasileiro e seu esgotamento como política de governo, consequência clara dos anos de militarização projeto da ditadura no país, mas também sugeriu alternativas para a superação desse momento.

    Essas reflexões levaram a uma análise detalhada da situação educacional nacional, publicada na obraNossa escola é um desastre(Ribeiro, 19848 RIBEIRO, D. Nossa escola é um desastre. Rio de Janeiro: Salamandra, 1984.). Neste livro vemos as bases do que viria a ser o PEE, com o diagnóstico das escolas públicas do país, a restrição de acesso para crianças em idade escolar sem elegibilidade para o ensino, e a necessidade de universalizar o ensino e potencializar o ensino fundamental.

    Nosso desafio é criar no Brasil, aqui e agora, o que chamo de pequena utopia, que para mim é o nível de desenvolvimento social generalizado para toda a população que tem tantos países com o mesmo nível de desenvolvimento econômico que o nosso. Estou falando dos países onde todos comem todos os dias; onde todo cidadão maior de 14 anos que queira trabalhar possa encontrar um emprego; onde todas as crianças vão para a escola primária. (Ribeiro, 19848 RIBEIRO, D. Nossa escola é um desastre. Rio de Janeiro: Salamandra, 1984., S. 8)

    A análise da situação educacional brasileira e seus dados catastróficos forneceram as propostas e metas que validaram o PEE e moldaram os ideais do CIEP e seu PPP. Os resquícios do regime civil-militar e seu impacto na educação pública ganharam destaque nas críticas à então legislação sobre perversidade e descaso estudantil:

    A Lei nº 5.692/71 foi demagógica ao introduzir uma educação primária obrigatória em oito séries, baseada em um sistema altamente precário que podia acomodar até metade das crianças que atendia na quarta série. A legislação também foi desastrosa porque impôs novas exigências à escola e negligenciou a tarefa fundamental de alfabetizar e aritmética. Além disso, houve irresponsabilidade relacionada à matrícula de colegas em escolas primárias que precisam de tratamento diferenciado. (Ribeiro, 19869 RIBEIRO, D. Das Buch der CIEPs. Rio de Janeiro: Bloch, 1986., S. 33)11 11Em O Livro dos CIEPs (Ribeiro, 1986), publicado em 1986, Darcy Ribeiro apresentou o PPP dos CIEPs e discutiu uma proposta de educação e atendimento em tempo integral para crianças do ensino fundamental que incluiria também a consideração do ensino para fortalecer habilidades de leitura e promoção, além de atividades culturais e esportivas, além do acompanhamento da alimentação e saúde das crianças.

    Entre as principais metas governamentais propostas por meio do compromisso do PEE e do CIEP para a superação das desigualdades socioeducativas da época identificadas nas avaliações sistêmicas da educação no estado do Rio de Janeiro estavam:

    1. Termine o terceiro turno e garanta pelo menos cinco horas de aula por dia.

    2. Proporcionar aos professores formação em serviço, então denominada “reutilização”, como oportunidade para o pleno cumprimento das suas responsabilidades pedagógicas;

    3. Criação de materiais didáticos próprios para alfabetização;

    4. Definir uma política de alimentação escolar que promova a descentralização da alimentação e permita que os produtores locais vendam suas safras diretamente ao CIEP;

    5. prestação de cuidados médicos e dentários a crianças; Isso é

    6. Definir uma política de valorização dos professores e profissionais da educação, incluindo (Ribeiro, 19869 RIBEIRO, D. Das Buch der CIEPs. Rio de Janeiro: Bloch, 1986., S. 35-36).

    A agenda dos movimentos sociais da década de 1980, aliada à defesa e democratização da escola pública e às iniciativas, principalmente no Rio de Janeiro, de formação universal do ensino por meio do CIEP, impulsionou as reformas da Lei nº 9.394 (Brasil, 19962 BRASIL. Lei nº 9.394/1996. Estabelece diretrizes e fundamentos para a educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996.), aprovada em 1996, tendo como relator Darcy Ribeiro e então Senador da República. Elementos como direito à alimentação, organização da escola em período integral, gestão democrática da escola com participação da comunidade como protagonista nos processos decisórios, garantia do acesso ao livro didático como direito do aluno, educação de jovens e adultos, valorização da profissões de educação e formação finalmente consolidadas na legislação educacional, além das leis, que surgiram das lutas das organizações nacionais de professores e seus sindicatos, sindicatos de professores e movimento estudantil.12 12Quatro congressos realizados na década de 1980 reuniram grupos de educadores e professores do ensino fundamental ao superior, seus representantes sindicais e associações onde se discutiu uma agenda educacional para o país: o primeiro congresso brasileiro de educação realizado em São Paulo em 1980; II Conferência, 1982 em Belo Horizonte; O III. Conferência realizada em Niterói em 1984. A IV Conferência ocorreu em 1986 em Goiânia. Nos debates políticos e educacionais do período, o projeto CIEP foi reiteradamente submetido a críticas de cunho político e conceitual, que não obtiveram consenso entre os setores progressistas da educação, que se encontravam principalmente entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático dos Trabalhadores (PDT) e outras associações de esquerda (Santos, 2011).

    Dadas as experiências de Anísio Teixeira na concepção da antiga Escola Parque de Salvador (Centro Educacional Carneiro Ribeiro, 1950), Darcy Ribeiro idealizou o CIEP e tentou filosoficamente conceber uma instituição de ensino em tempo integral. Esse projeto não foi um caso isolado desse intelectual orgânico da cultura brasileira, mas politicamente carregou o ímpeto de Leonel Brizola em seu projeto de poder.

    Brizola voltou ao Brasil no início dos anos 1980 com o desejo de protagonizar as lutas políticas nacionais e buscou unir os trabalhadores no que se tornou um poderoso movimento social na década de 1960, portador de sentimentos de nacionalismo desenvolvimentista com grande apelo organizado na população. , com base na organização das classes trabalhadoras urbanas e rurais. Ele foi criado na cultura castillo positivista, na qual a primazia da educação representava simultaneamente os ideais de avanço econômico, tecnológico e científico e o bem-estar social. Suas experiências como prefeito de Porto Alegre (1956-1958) e governador (1959-1963) reforçaram sua crença na necessidade de investir na expansão do sistema público de ensino no estado do Rio Grande Sul e na universalização do ensino fundamental.13 13A confluência dos impulsos políticos de Darcy Ribeiro e Brizola na projeção do CIEP contribuiu para a qualidade modernista de Oscar Niemeyer, o arquiteto comunista que queria unir “beleza, baixo custo e rapidez de execução” no espaço físico (Ribeiro, 1986, p. .103).

    Na proposta pedagógica do CIEP, percebemos que Darcy propunha, no âmbito da representação simbólica, uma escola como síntese cultural do país e do estado do Rio de Janeiro no encontro entre matrizes étnicas, expressões artísticas locais e regionais e protagonista de populações marginalizadas e oprimidas que viviam na capital carioca, na Baixada Fluminense e no interior. Fortalecer os vínculos entre escola e comunidade por meio da promoção de atividades culturais significou uma nova compreensão da educação, enfatizando a alegria das crianças em aprender, vivenciando o ambiente escolar e as diferentes linguagens e formas de expressão que acolhem a educação e a cultura como parte integrante” [...] criar uma verdadeira simbiose: a cultura irriga e promove a educação, que por sua vez é um excelente meio de mediação cultural." (Ribeiro, 19869 RIBEIRO, D. Das Buch der CIEPs. Rio de Janeiro: Bloch, 1986., S. 49, 133).

    Por meio da animação cultural, foi iniciado um processo de conscientização sobre a realidade brasileira e as desigualdades sociais e a importância da vida em comunidade, transformando o espaço escolar em um ambiente plural e que respeita a diversidade cultural. Num país onde a transição entre os regimes civil-militar e democrático ainda apresentava sinais de incerteza, o CIEP apelou aos princípios da democracia, da convivência social e do respeito mútuo como parte curricular, sendo a cultura o fator integrador deste projeto nacional.

    Tudo começa com a cultura local, suas manifestações, ações comunitárias, seus artistas e seu cotidiano (até então tão pouco contemplado no currículo escolar), que aos poucos vai sendo integrado ao cotidiano escolar [...]. Por meio de uma ação cultural contínua, crianças, jovens e adultos da escola ou da comunidade podem fazer do CIEP um espaço de educação para a vida permeável à troca dos mais diversos saberes. (Ribeiro, 19869 RIBEIRO, D. Das Buch der CIEPs. Rio de Janeiro: Bloch, 1986., S. 133-134)

    Os animadores culturais seriam os responsáveis ​​pela construção desses vínculos escola-comunidade, promovendo as expressões culturais da regionalidade e valorizando os artistas locais e as atividades com história nas comunidades e seus bairros. A promoção da Semana da Cultura Negra e dos pagodes e rodas de samba, bem como o incentivo aos grupos de capoeira, demonstraram a possibilidade política de promover o movimento negro organizado e sua cultura de ação positiva ativa na década de 1980, consubstanciado no Partido Democrático dos Trabalhadores ( PDT) foi fortemente representado para salvar. Ailustração 1explica o CIEP PPP e o enfoque cultural nas tradições e expressões afro.

    Ciência, literatura e educação: a utopia morena no pensamento social de Darcy Ribeiro (1)

    ilustração 1
    – A síntese Darcyan: expressões da cultura afro-brasileira nos centros integrados de educação pública. "Somos essencialmente um só povo..."

    Com Darcy Ribeiro, os quadros intelectuais e militantes do PDT contribuíram para reflexões sobre o protagonista do negro na história do Brasil, propondo um importante debate sobre a causa negra na sociedade. O intelectual Abdias do Nascimento, além de escritor, ator, jornalista e ativista antirracista, também foi senador da República pelo PDT (1997-1999), como deputado de Darcy Ribeiro. Foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978. Ligada ao PDT em meados da década de 1980, a antropóloga e professora Lélia Gonzalez ajudou a organizar o movimento negro no país e a fundar entidades como z como o MNU, Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), Coletivo de Mulheres Negras N. 'Zinga e Olodum. Ele examinou a conexão entre gênero, classe e raça. Foi professora do Colégio de Aplicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O jornalista Carlos Alberto Oliveira, o Caó, também foi deputado federal do PDT na Assembleia Nacional Constituinte e autor da Lei nº 7.716/89 (Brasil, 19891 BRASIL. Lei nº 7.716/89. Define crimes baseados em preconceito de raça ou cor. sancionou Brasília, em 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e 101º da República. Brasília, DF: Presidência da República, 1989.), que definia crimes de preconceito e discriminação de raça ou cor.

    Uma expressão é usada emo povo brasileiro(Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995]), que apontava a quem o PEE se destinava a atender e quais camadas sociais seriam contempladas pela política pública da época de universalização do ensino fundamental: o entendimentoNeecom base na construção das complexas e diversas matrizes étnicas que constituiriam o resultado do país. “Essa massa de nativos mestiços viveu por séculos inconsciente e absortaNee. Até que se definiu como uma nova identidade étnico-nacional, ou seja, a dos brasileiros.” (ibid, S. 410).

    OsNeeSomos todos nós, no caldo de formação de gente que se mistura, une, na expressão que costuma usar o antropólogo e educador, o que entendemos por brasileiros. As geografias rurais e urbanas e seus ambientes contribuíram para metamorfoses de linguagens regionais, religiosidades, formas de trabalho e relações de opressão determinadas por modelos de exploração econômica, como na representação da usina de açúcar, e, como diz Ribeiro,o lugar para passar as pessoas. Da constatação de que fazemos parte de um todoNeeReconhecemos nossas origens e procuramos entender nosso país através dos dramas que marcaram sua trajetória até hoje – incluindo a escravidão e suas consequências históricas. Nisso Ribeiro se diferenciava de Oliveira Vianna e Euclides da Cunha: seu texto agregava pensamento crítico e apontava a crueldade da elite durante o processo civilizatório de formação do brasileiro:

    A distância social entre as classes dominantes e subordinadas, e entre estas e os oprimidos, aumenta, exacerba as contradições e leva a tensões dissociativas de natureza traumática no quadro da unidade étnico-cultural e nacional. Como resultado, as elites dominantes, primeiro os portugueses, depois os luso-brasileiros e finalmente os brasileiros, ainda viviam e vivem com medo e pânico; É a brutalidade opressiva contra qualquer levante e a atitude autoritária do poder central que não permite nenhuma mudança na ordem vigente. (Ribeiro, 200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], p. 21)

    Do ponto de vista de Darcyan, o CIEP é o encontro com a nova identidade daNeeque se redescobrem por meio da educação e da cultura em sua brasilidade, na diversidade de povos, línguas e expressões artísticas,essencialmente uma pessoa. No estado do Rio de Janeiro, no interior e principalmente na Baixada Fluminense, convergiu essa mistura que veio com a emigração das fronteiras do país nas décadas de 1940 e 1950: goianos e mineiros, sertanejos e caipiras, nordestinos e Nordeste Populações do Sul e do Norte, as comunidades indígenas do Rio de Janeiro e do Empoderamento Negro e sua cultura de resistência no campo educacional têm se esforçado para se reconhecerem por meio de suas próprias identidadesNeecomo um fator propositivo para sua origem. O CIEP seria a síntese da utopia socialista em contraste com outras experiências históricas, ou seja, o moreno, caboclo, preto, cor diversa.

    Laut Edward W.disse (200515 SAID, E. W. Vertegenwoordigingen van de intellectueel. São Paulo: Companhia das Letras, 2005., pp. 27-28), a missão do intelectual é trazer desvantagem no confronto com a ortodoxia e o dogma, e ele não pode ser facilmente separado dos setores dominantes da sociedade se "[...] ser contra e até desconfortável.”

    O embate de Darcy com a elite brasileira se deu em sua mente, no projeto de emancipação civilizatória do Terceiro Mundo e do Brasil. Nesta república de origem oligárquica e escravagista, a cultura de dominação da elite brasileira rejeitou a obra de Ribeiro porque sua concepção de libertação humana o incomodava em revelar uma identidade nacional diversa em um mingau civilizatórioSão.

    A implantação dos CIEPs nas décadas de 1980 e 1990 trouxe para a agenda política as discussões sobre a universalização do ensino fundamental, o investimento na escola pública e a valorização do educador. Consolidado como política pública de educação no estado do Rio de Janeiro durante os dois mandatos do governador Leonel Brizola (1983-1987 e 1991-1994), o CIEP teve forte repercussão no setor de mídia devido aos altos custos de investimento na construção civil, mas também foram incentivados pelo setor educacional progressista, seja em sua concepção ou nas intenções eleitorais de Brizola. Interrompida por dois mandatos da oposição, nos governos de Moreira Franco (1987-1991) e Marcello Alencar (1995-1998), a escola de tempo integral idealizada por Darcy Ribeiro foi severamente desestruturada e abandonada ao longo do tempo e nos governos posteriores. CIEP ainda é a marca que Darcy vislumbra; A sua vitalidade visaria a aglutinação de todos os marginalizados, sendo o processo educativo encarado como um acto crucial da soberania nacional.

    Por meio de suas obras e reflexões, Ribeiro rompeu com a lógica explicativa das classes dominantes, que insistiam em interpretar o país com o falso mito da origem da harmonia racial, da naturalização do poder dos senhores de engenho e da concentração do desejo por um país homogêneo, partindo do discurso de que não há racismo no país, o desconhecimento das diferenças estruturais e a criminalização da resistência dos movimentos sociais que se articulam com formas de libertação social.

    Por ocasião dos 100 anos de Darcy Ribeiro em 2022, em tempos de luta pela democracia no país, pelas liberdades civis e pela garantia dos direitos sociais constitucionais, a reflexão sobre sua obra deve ser uma necessidade ético-políticaNeeuma república insegura. A obscura utopia de outro paísSãoNos embala, do ponto de vista de Darcyan, para a reunificação dos povos e suas diferentes culturas, o que por sua vez significao povo brasileiro.

    • 1

      Nasceram na década de 1920: Florestan Fernandes e Celso Furtado, 1920; Paulo Freire, 1921, Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, 1922; e Raimundo Faoro, entre outros, em 1925. As reformas educacionais nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco também simbolizaram um forte movimento político-intelectual baseado na Escola Nova e na filosofia Deweyiana.

    • 2

      A seguinte referência é utilizada nos estudos sugeridos para este artigo: RIBEIRO, D.o povo brasileiro. São Paulo: Schwarcz Ltda., 2009; in RIBEIRO, D.por muilezel. São Paulo: weltweit, 2014a.

    • 3

      Euclides da Cunha e sua obra,Interior, citado por DarcyRibeiro (200912 RIBEIRO, D. Det brasilianisches Volk. São Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].[1995], p. 324). Florestan Fernandes, Sergio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre foram igualmente entrevistados (Ribeiro, 2009 [1995], pp. 28; 32-33; 55).

    • 4

      FörsterFernandes (20056 FERNANDES, F. A Revolução Civil no Brasil: Ensaio sobre a Interpretação Sociológica. São Paulo: Globo, 2005., bv 241), vocêA revolução burguesa no Brasil, analisou a natureza da modernização conservadora em curso no país, caracteriza o capitalismo em desenvolvimento no Brasil com normas próprias, especialmente nas peculiaridades das elites brasileiras, e a transição da economia rural-agrícola para a industrialização urbana, identifica as tendências ideológicas persistência dos princípios dos eslavocratas, das elites que uniam seus projetos políticos: composição à modernização poderosa, implacável e avassaladora... O bossismo oligárquico se reproduzia fora da oligarquia. A burguesia, que o rejeitou por ferir interesses, não permitiu que fosse implementado em suas relações sociais”.

    • 5

      Darcy Ribeiro toma a obra como referência nessa reflexãoEscravidão Colonial, por JacobGorender (1988)7 GORENDER, J. Colonização. São Paulo: Ática, 1988..

    • 6

      A história do personagem Filogônio revela o empecilho de ter filhos e deixar herdeiros naturais. Ela guarda alguma semelhança com a própria experiência de Darcy Ribeiro em sua vida pessoal ao explicar os motivos de não ter filhos: "Dr. Schoer me ajudou, que, após me examinar, foi ao consultório procurar o instrumento da minha salvação. Ele voltou armado com uma seringa veterinária e inseriu a agulha duas vezes para injetar novocaína. (Ribeiro, 1997, p. 134). Darcy refletiu seu dilema pessoal em seu romance e no personagem de Philogonius?

    • 7

      Luiz WerneckViana (2004)18 VIANNA, L. W. A Revolução Passiva: Iberismo e Americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2004., bv 175), vocêA Revolução Passiva: Iberismo e Americanismo no Brasil, estudo de uma mentalidade política desenvolvida na mente de Oliveira Vianna, movimento ideológico que permearia as elites brasileiras e seu modelo de modernização, propõe no Iberianismo: “A forma ibérica de governo manteria, desde a independência, a disciplina e a unidade entre. "Núcleos provinciais completamente isolados uns dos outros, material e moralmente.

    • 8

      Sobre a formulação do Capítulo VII, “A Ação Coletiva da Elite Orgânica: A Campanha Política da Burguesia – A Armadilha do Camponês,”Dreifuß (19815 DREIFUSS, R. A. 1964, The Conquest of the State: Political Action, Power and Class Putsch. Petrópolis: Vozes, 1981., pp. 281–299) pesquisou fontes documentais primárias que apontam para as estratégias da classe dominante que moldaram o golpe civil-militar no Brasil. O texto discutiu a longa história de agitação rural e como a repressão visava esmagar as forças articuladas na luta pela reforma agrária, suas lideranças e instituições.

    • 9

      O desfecho do romance ocorre quando Filogônio, olhando-se no espelho e reconhecendo seus traços antigos, descobre que seu pai fora Lopinho: "Então, de repente e espantado, compreendi: mesmo rosto, mesmo olhar triste, mesma boca, a mesma …” chupando, retorcido, o mesmo nariz grande, a mesma testa estreita, a mesma barba rala... O que eu via no espelho não era eu, era ele. Era o saudoso Lopinho. (Ribeiro, 2014a, pp. 312-313) O drama edipiano foi a constatação de que Filogônio havia assassinado Lopinho na juventude.

    • 10

      Em 1964, Darcy Ribeiro exilou-se no Uruguai, onde trabalhou como professor de antropologia na Universidade da República Oriental do Uruguai, em Montevidéu. Em 1969 exilou-se na Venezuela, onde trabalhou na Universidade Central da Venezuela. Em 1971, assessorou o presidente chileno Salvador Allende. Em 1972 assessorou o presidente peruano Velasco Alvarado na elaboração de um plano de reestruturação do sistema universitário peruano. Durante o período de exílio participou de ações do Conselho Mundial de Igrejas e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), todas voltadas para o estado originário [Apêndice,A mula. A vida e obra de Darcy Ribeiro(Ribeiro, 2014a);Palestra: Darcy Ribeiro(Campos, Cohn in Reis, 2007, S. 234-237)].

    • 11

      Emlivro do CIEP(Ribeiro, 1986), publicação de 1986, Darcy Ribeiro apresentou o PPP do CIEP, no qual discutiu uma proposta de educação em tempo integral, apoio ao ensino fundamental, considerações sobre a participação em sala de aula, fortalecimento da alfabetização e fortalecimento da leitura. além de atividades culturais e esportivas, também acompanha a alimentação e a saúde das crianças.

    • 12

      Quatro congressos realizados na década de 1980 reuniram grupos de educadores e professores do ensino fundamental ao superior, seus representantes sindicais e associações onde se discutiu uma agenda educacional para o país: o primeiro congresso brasileiro de educação realizado em São Paulo em 1980; II Conferência, 1982 em Belo Horizonte; O III. Conferência realizada em Niterói em 1984. A IV Conferência ocorreu em 1986 em Goiânia. Nos debates políticos e educacionais do período, o projeto CIEP foi reiteradamente submetido a críticas de cunho político e conceitual, que não obtiveram consenso entre os setores progressistas da educação, que se encontravam principalmente entre o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático dos Trabalhadores (PDT) e outras associações de esquerda (Santos, 2011).

    • 13

      A confluência dos impulsos políticos de Darcy Ribeiro e Brizola na projeção do CIEP contribuiu para a qualidade modernista de Oscar Niemeyer, o arquiteto comunista que queria unir “beleza, baixo custo e rapidez de execução” no espaço físico (Ribeiro, 1986, p. .103).

    • Financiamento:O estudo não foi financiado.

    (Video) 100 Anos de Darcy Ribeiro (Parte 1 - Manhã)
    • 1

      BRASIL.Lei nº 7.716/89Define crimes baseados em preconceito de raça ou cor. sancionou Brasília, em 5 de janeiro de 1989; 168º da Independência e 101º da República. Brasília, DF: Presidência da República, 1989.

    • 2

      BRASIL.Lei nº 9394/1996Estabelece diretrizes e fundamentos para a educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996.

    • 3

      CAMPOS, S.; COHN, S.; REIS, R. (org.).Darcy RibeiroRio de Janeiro: Azougue Editora, 2007.

    • 4

      CUNHA, E.InteriorRio de Janeiro: Rekord, 2000.

    • 5

      DREIFUSS, R. A.1964, a conquista do estado: Ação política, poder e golpe de classe. Petrópolis: Vozes, 1981.

    • 6

      FERNANDES, b.A revolução burguesa no Brasil: Ensaio sobre interpretação sociológica. São Paulo: Globo, 2005.

    • 7

      GÖRENDER, J.Escravidão ColonialSão Paulo: Attika, 1988.

    • 8

      RIBEIRO, D.Nossa escola é um desastreRio de Janeiro: Salamandra, 1984.

    • 9

      RIBEIRO, D.O Livro dos CIEPsRio de Janeiro: Bloch, 1986.

    • 10

      RIBEIRO, D.O processo de civilizaçãoPetropolis: Stemmen, 1987.

    • 11

      RIBEIRO, D.confissõesSão Paulo: Companhia das Letras, 1997.

    • 12

      RIBEIRO, D.o povo brasileiroSão Paulo: Editora SCHWARCZ Ltda., 2009 [1995].

    • 13

      RIBEIRO, D.por muilezelSão Paulo: Global Editora, 2014a [1981].

    • 14

      RIBEIRO, D.América latina: A grande pátria. Brasil: Editora UnB, 2014b.

    • 15

      SAID, E. W.Representações intelectuaisSão Paulo: Companhia das Letras, 2005.

    • 16

      SANTOS, OSEntre a utopia e o labirinto: Democracia e autoritarismo no pensamento educacional brasileiro na década de 1980. Rio de Janeiro: FAPERJ/Quarteto Editora, 2011.

    • 17

      VIANA, FJOPopulação do Sul do BrasilRio de Janeiro: Bertrand Brasilien, 2000.

    • 18

      VIANA, L. W.morrer revolução passiva: Iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2004.

    • publicação neste volume
      15 de maio de 2023
    • data de lançamento
      2023
    • Receber
      25 de novembro de 2021
    • Aceitaram
      29 de junho de 2022
    (Video) Darcy Ribeiro

    Sobre do autor

    Lincoln de Araujo SantosLincoln De Araújo Santos é doutor em Políticas Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação nas Periferias Urbanas (PPGECC) da mesma instituição e da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF). E-mail: liarsan@gmail.com

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Duque de Caxias, RJ, Brasil.

    • Lincoln De Araújo Santos é doutor em Políticas Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação nas Periferias Urbanas (PPGECC) da mesma instituição e da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF). E-mail:liarsan@gmail.com
    • Conflitos de interesse:O autor declara que não possui interesses comerciais ou associativos que representem conflito de interesses em relação ao manuscrito.

    personagens

    • Figuras (1)

    ilustração 1
    – A síntese Darcyan: expressões da cultura afro-brasileira nos centros integrados de educação pública. "Somos essencialmente um só povo..."

    Figura 1 – A síntese de Darcyan: expressões da cultura afro-brasileira nos centros integrados de educação pública. "Somos essencialmente um só povo..."

    Ciência, literatura e educação: a utopia morena no pensamento social de Darcy Ribeiro (4)Bron:Ribeiro (19869 RIBEIRO, D. Das Buch der CIEPs. Rio de Janeiro: Bloch, 1986., S. 134).

    como citar

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    Author: Dan Stracke

    Last Updated: 06/23/2023

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